segunda-feira

A respeito da relação educação e segurança nas escola

Aos colegas professores/as, 


Vale a pena ler as (excelentes) colocações da Professora Ana Maria Monteiro (Faculdade de Educação - UFRJ) sobre a questão dos PMs nas escolas estaduais do Rio.



Amig@s


Envio mensagem que escrevi após participar do Jornal Nacional ontem. 


Na noite de 5 feira, dia 3 de maio, na aula do Cespeb, fui informada pelos professores sobre a decisão do governo do estado do Rio de Janeiro de alocar policiais armados em colégios "perigosos???", medida que já estava, inclusive, implantada em colégios onde alguns deles atuam.O impacto era geral. 


Surpresa, indignação e, posso dizer, raiva eram sentimentos expressos misturados com constrangimento, preocupação sobre o que poderia acontecer em futuro próximo e até mesmo a impotência e um certo medo frente a esta medida radical que nem em tempos de ditadura militar vimos acontecer. 


Policiais armados, de plantão nas escolas, em seus horários de folga -possibilidade de legalização o "bico"?- para a "defesa do patrimônio" das escolas?. Entre o espanto e o choque frente ao que eu ouvia, discutimos as possíveis razões para a medida e que medidas poderíamos tomar junto ao SEPE, sindicato e Ministério público. Informei que apresentaria uma moção de repúdio na Congregação. Ontem, sexta-feira, fui contactada pela equipe do Jornal Nacional para saber de nossa visão sobre a questão. Fui convidada para gravar uma entrevista que foi ao ar, editada e reduzida, mas que recortou o ponto principal de minha posição. 


Escola não é lugar de polícia. Escola é lugar de educação através dos saberes, da produção de conhecimentos e onde aprendemos que podemos buscar resolver conflitos através de argumentos, da palavra. Onde aprendemos que somos diferentes e que as diferenças nos ajudam a aprender sobre quem somos. 


Expliquei que a presença de policiais armados na escola deixa implícita a idéia de que em última instância, é através das armas que se resolvem os conflitos. E que, ao contrário, defendo que escola é lugar para se aprender sobre nossos direitos e responsabilidades, para reconhecer e repudiar a violência e desigualdades. Por mais que situações de conflitos, violência ocorram, e vão ocorrer sempre, não é a presença de policiais armados que vai evitá-las e resolvê-las. 


Polícia na escola é mais um fator de violência ao esvaziar a autoridade dos professores e constrangê-los, fragilizá-los. Censurá-los? Entendo que o dever do estado é manter uma escola com infra-estrutura, condições de trabalho,salários dignos e que apoie os docentes nos momentos difíceis que venham a ocorrer. Polícia garante a segurança nas ruas, nos arredores da escola e, se for preciso, é chamada para entrar e atuar em casos específicos de roubos, invasões, depredações, presença de armas.Mas entra e sai. De alguma maneira, alocar policiais na escola revela a impotência do Estado e de sua política educacional que não consegue encontrar alternativas educacionais para o enfrentamento dos desafios contemporâneos apresentados pela escola. 



Escola é lugar de estudantes, professores e de trabalhadores de apoio, em relação entre si, com o outro e com os saberes. Através dos saberes descobrem mundos e possibilidades de vida e de busca da felicidade. 

Educação como prática política de liberdade é o desafio que nos anima e incita a prosseguir." 



Ana Maria Monteiro 




3 comentários:

Profª Elaine Cristina Fernandes. disse...

Escola é lugar de educação, de transformação, de construção de sonhos e que a eminência de uso de violência não é a solução. Nunca foi. Violência só gera mais violência. No entanto, ultimamente, há muita violência física e verbal na escola. MUITA MESMO! E digo isso porque trabalho em escolas há anos, tenho muitos colegas da área e parentes meus trabalham em delegacias. É impressionante o número de ocorrências de violência em escolas! Nem eu sabia a quantidade de registros de alunas e alunos que se agridem, cortam os rostos das mais bonitas ou mais 'metidas', ameaçam colegas, exigem 'pedágio' para passar e isso acontece não só nas proximidades da escola, não! A maioria da violência ocorre dentro da escola!!! Pais de alunos também estão inseridos nesta triste realidade: uns ameçam professores, diretores, outro alunos e outros são ameaçados! Há muitos casos em que os professores e/ou pessoal de apoio _ trabalhadores _ sentem-se tão fragilizados que chegam a exonerar suas matrículas por do medo. Já houve casos, e não é novidade, de agressão a professores dentro da escola ou na hora da saída. Qual colega não ouviu ou vivenciou casos assim? Casos de carros de funcionários de escolas que são depredados então, nem se fala... E nada acontece! E esse 'nada acontece' por parte da escola ou por parte da instituição que deveria 'acontecer' é que apenas reforça as atitudes do nosso atual alunado, dos seus responsáveis e dos 'que mandam na área da escola'.
A maioria dos colegas têm medo de irem à uma delegacia prestar queixa por causa da represália.
Professor costuma ser um ser sonhador, sublimador, e transformador. Resumindo: Educador, certo? Mas em muitos casos temos que começar a enxergar nossa triste realidade. Esta verdade que nos cerca é bem diferente da que queremos para a nossa sociedade! Não queremos uma sociedade que se acostume com os auxílios governamentais _ verdadeiras esmolas _ que são postas como uma das tábuas de salvação para que a evasão escolar acabe! Não queremos uma sociedade que se acostume com a impunidade: errou? Responda pelo seu erro! Não queremos uma sociedade que resolver tudo 'no braço' e que desrespeita as leis! Queremos uma sociedade que veja que precisamos ser a transformação que queremos pra ela! Mas esta sociedade não virá somente através da Educação. Precisamos unir forçar quando necessário.
A polícia na escola, acredito eu, é uma questão preventiva. Nenhum policial deve entrar na escola sem a devida autorização ou a pedido da direção e sair tomando o lugar do inspetor escolar, etc e tal.
Acho q a violência está tão evidente no meio social, e tantas coisas horríveis têm acontecido dentro das escolas _ que fogem ao conhecimento de muita gente que trabalha na área Educação _ que 'prevenir deverá ser melhor que remediar'. A escola sozinha não está dando conta!
Gente, vivemos numa sociedade em que a impunidade é tanta que nos assusta todos os dia! Leis penais retrógradas fazem prevalecer o mal sobre os de bem que agem sem nenhum medo do que poderá acontecer. Nossa realidade é tentar mudar a sociedade trazendo a reflexão, a autoestima, a motivação, o respeito ao próximo, o valor do voto, etc., Mas está evidente que não podemos fazer isso sozinhos! Não somos os 'salvadores da pátria'! Estamos precisando de ajuda, sim! Temos família, temos sonhos, temos objetivos e queremos viver para alcançá-los, queremos progredir, queremos qualidade de vida, queremos segurança... Quantos colegas professores que nós conhecemos já foram ameaçados por alunos ou pais de alunos??? Isso não é utopia! Isso é realidade! Utopia e achar que a solução de toda a transformação da nossa sociedade está somente nas mãos da Educação.
Colegas professores, fica difícil sabermos o que é melhor: escolas com policiamento ou sem; comunidades com UPP's ou sem, escolas com professores ou sem? Professores com bonificação anual ou com salários dignos sempre? E, gente, estas ações são melhor pra quem?
Profª Elaine Cristina Fernandes.

Profº Sérgio Sarabanda disse...

Que essa é uma medida extrema, não tenho dúvida nenhuma. Mas, não estarei fechada a essa medida até que eu possa ouvir a opinião dos professores docentes das escolas contempladas, e com a operacionalidade da presença dos policiais. Emitir uma opinião consistente, numa realidade totalmente diferente, como o seguro meio acadêmico, parece-me prematura e até reacionária. É senso comum os problemas enfrentados pela escola pública, seja na questão da violência, como fartamente explanada no comentário acima, ou em questões como: infra-estrutura, valorização dos profissionais de ensino e serviços sociais que desenvolvam a família do alunado. Mas essa medida não é da competência da pasta da Educação e sim da segurança Pública. Estamos em guerra!!! Por isso, tal decisão se explica. Que medida pedagógica dá conta do dia-a-dia de um CIEP no Complexo da Maré, onde a endolação da droga é feita DIARIAMENTE, na quadra da escola? Que ação sócio-educativa se aplica à uma escola, em seu funcionamento noturno, dentro complexo da Vila Kennedy, para onde migraram cerca de 300(!!!) bandidos fortemente armados, após a 'tomada' do complexo do alemão pelo Estado? O tempo entre o fato ocorrido, a comunicação do fato às autoridades, se a direção dessas escolas tiver a coragem de denunciar, pq a polícia vai sair e ela ficar, e a chegada da mesma à U.E há tempo de evitar o fato ou prender os envolvidos, certamente será imenso e inviável. Falar em autoridade do professor em situações como essa beira o surreal e citar os tempos de ditadura, apelação. Na ditadura, não tínhamos grupos fortemente armados dominando uma área e ditando as regras. Devemos e vamos fiscalizar, cobrar o aperfeiçoamento dos policiais e da operacionalidade. Volto a citar: Estamos em guerra, os números comprovam isso, assim como o arsenal em posse desses indivíduos. Em nenhum outro lugar do Brasil eu apoiaria essa decisão, ela não vai resolver os graves problemas da educação, mas se faz necessária na atual circunstância. O governador, do qual discordo de quase todas suas práticas, toma uma decisão dificílima, antipopular, mas que, a meu ver, a pricípio, é acertada. Embora tenha certeza que esta iniciativa tenha partido do seu secretário de segurança que eu espero que não seja mais um bandido, enganador que virá candidato a algo nas próximas eleições. Que essa relação não será fácil, não tenho dúvidas, mas acho que o custo-benefício valerá a pena. Como disse: Vou esperar os relatos dos profissionais envolvidos neste contexto para ter um embasamento mas preciso para fazer um julgamento.

Elaine Pernambuco disse...

Boa análise, porém deixa eu te perguntar: você já viu a listagem das 90 escolas experimentais da medida? Me parece que não estão situadas nos contextos que exemplificas...