segunda-feira

Poema de D. Pedro Casaldáliga: Caminho que a gente é


Retirante
Só caminho
É o que há.

Terra de roça e morada
Não tem mais.
Os sete palmos de outrora
Nem todos vão encontrar!

Retirante,
Caminheiro,
Só caminho
É que há.

Caminho que a gente é,
Caminho que a gente faz:
Para viver,
Para andar;
Para outros caminheiros se ajuntar.
Caminho para os parados se animar.
Para os perdidos, de novo achar.
Para os mortos não faltar!

Caminho que a gente é,
Caminho que a gente faz.

Se tem cerca,
Não tens braços
E facão para cortar?
Se a noite fechou-te o rumo,
Procura junto aos irmãos:
Coração em companhia,
Sempre encontra seu luar.

Deus é Deus
Em tudo e sempre.
A história, a gente faz,
Lavrando no dia-a-dia
Nossa hora e seu lugar.

Recolhe o sangue dos mortos
No sol de cada manhã.
Colhe dos ventos o alerta.
Dos moços colhe o afã
Dos índios a liberdade.
E das crianças a paz.

Faz do canto do teu povo
O ritmo de teu andar.
Sacode o largo letargo,
Deixa a saudade pra trás:
Quem caminha na Esperança
Faz no hoje o amanhã!

Deixa os garimpos de lado,
Se te queres bamburrar.
A terra, que é mãe de todos,
Amor de todos será!

Caminheiro,
Companheiro,
Só caminho
É o que há:
Caminho que a gente é,
Caminho que a gente faz!

Por ora,
Isso é o que há...
Mas, um dia o mundo vira
E tem o que haverá!