sexta-feira

“Negra Elaine”

Abram os caminhos
Que eu quero passar
Igual a você quero avançar
Na democracia, com
Luta e com fé
A cidadania como negra e mulher
O meus direitos vou referendar
Não adianta estar no papel
Como Canaã
A terra que corre leite e mel
Nova Iguaçu meu povo negro abraçará
E conquistando, com vigor, com muita luta
A equidade racial
Mesmo com a dor, no dia-a-dia da labuta
O negro hoje é reconhecido
Vencendo a tudo até o mesmo preconceito imbuído
Em tantas falas a discriminação ainda tem feito
Gerar tanta indignação.


Autora: Elaine pernambuco

Oralidade e Memória

       Ao usar depoimentos para o estudo da história de um povo levamos em consideração a voz do sujeito, suas singularidades e pensamentos a respeito da história vivida. Nesse sentido estamos valorizando e pesquisando de dentro para fora, ou seja, considerando a experiência vivida como fonte documental.
      As memórias de um povo quando individualizadas tomam como foco cada pessoa como sujeito de sua história, uma história construída a partir da tessitura das memórias individuais que constituirão a memória coletiva.
       Nessa perspectiva, consideramos como conceito de memória como o órgão que armazena as experiências positivas e negativas e “que formam o patrimônio cultural de cada pessoa”(DISTANTE, 1988:88). Ao ouvir relatos de uma pessoa pertencente a uma comunidade afro-descendente assim como a uma outra e, ao compartilhar com esta pessoa ou com o grupo as reflexões obtidas a partir desses relatos, estaremos possibilitando um crescimento, uma ampliação conjunta da óptica tanto de quem pesquisa como de quem é pesquisado. Assim, poderemos gerar uma perspectiva transformadora no sentido de perceber e fazer perceber que na história não somos só pacientes, mas agentes e, como isso, nos encorajarmos a implementar ações que resgatem a memória, valorizem a sua história e impulsionem transformações.

Referência:
DISTANTE, Camelo. Memória e Identidade. In: Identidade e Memória. Tempo Brasileiro, nº 95, Rio de Janeiro, out./dez de 1998.

Sou Negro

Meus avós foram queimados pelo sol da África
minh'alma recebeu o batismo dos tambores
atabaques, gonguês e agogôs


Contaram-me que meus avós vieram de Loanda
como mercadoria de baixo preço
plantaram cana pro senhor do engenho novo
e fundaram o primeiro Maracatu.


Depois meu avô brigou
como um danado nas terras de Zumbi
Era valente como quê
Na capoeira ou na faca
escreveu não leu o pau comeu
Não foi um pai João humilde e manso



Mesmo vovó não foi de brincadeira
Na guerra dos Malês ela se destacou
Na minh'alma ficou o samba
o batuque o bamboleio
e o desejo de libertação...



Do eterno poeta pernambucano, Solano Trindade