sábado

O ''analfabeto'' arrasou

O presidente Luiz Inácio chega ao fim do segundo mandato. Termina com 87% de aprovação popular. Pode dizer no seu melhor estilo que nunca antes na história de uma democracia um governante conseguiu tal consagração. FHC acabou seus oito anos com míseros 26% de apoio da população. Para mudar é preciso, às vezes, mudar-se. Luiz Inácio mudou. E ajudou a mudar um pouquinho o Brasil. Falta muito. Mas está um pouquinho melhor do que antes. Ao contrário do que alguns andam dizendo, o governo do PT foi muito bem em educação. Recuperou e ampliou as universidades federais. Arrasou ao adotar o ProUni e o Reúne. Deu show ao estimular a política de cotas. Fecha com chave de ouro com a decisão do Itamaraty de reservar vagas para afrodescendentes nos concursos para diplomata.



O orçamento do Ministério da Educação pulou de R$ 29 bilhões para R$ 67 bilhões no reinado de Luiz Inácio. O Bolsa-Família, política de Primeiro Mundo, existente, com outros nomes, nos países mais desenvolvidos e decentes do planeta, diminuiu desigualdades, distribuiu renda, deu de comer a muita gente, gerou empregos e acionou a economia em milhares de pequenas cidades. Só insensíveis, reacionários destemperados e sócios eternos do clube do ódio à esquerda continuam sem reconhecer os méritos das políticas sociais de Luiz Inácio. A extrema-esquerda tem outras razões. Se tivesse sido o que a direita previa, teria imitado Hugo Chávez e falhado. Seria a glória para seus detratores. Ele soube frustrá-los. Exagerou nas alianças indigestas. Fechou os olhos para o caixa dois do mensalão. Mas não deixou de jogar para escanteio potentados envolvidos como José Dirceu. O acusado de não dominar a língua mostrou-se o nosso melhor comunicador.



Na política internacional, Luiz Inácio cometeu erros e acertos. Aproximou-se do Irã, ditadura mal dissimulada que apedreja adúlteras e arranca olhos de quem arranca os olhos dos outros, provocando a fúria dos Estados Unidos, que são muito próximos da Arábia Saudita, ditadura sem dissimulação que apedreja adúlteras... O Brasil atravessou a pior crise financeira internacional depois de 1929 como se, de fato, não passasse de uma "marolinha". O ponto frágil de Luiz Inácio continua sendo o seu filho Lulinha, que mora num apartamento pago pelo Grupo Gol, recebe cada vez mais investimentos da poderosa Oi na sua deficitária empresinha Gamecorp e não decola. Por fim, Luiz Inácio bancou a eleição para o seu lugar de uma mulher, o seu melhor quadro administrativo, a "mineirucha" Dilma Rousseff. Os especialistas de plantão garantiam que seria impossível eleger Dilma. Depois, desesperados, inverteram o argumento: o presidente seria capaz de eleger até um poste. Neste último dia de 2010 e do seu mandato, Luiz Inácio deve conceder refúgio a Cesare Battisti. Se o fizer, demonstrará independência, coragem e capacidade de compreender a natureza dos crimes políticos. O "analfabeto" fez o doutor comer poeira. Poderia ter sido melhor do ponto de vista da esquerda, o que talvez fosse pior para o Brasil. Poderia ter sido pior do ponto de vista da direita, o que seria melhor para ela. Há males que fazem algum bem. Feliz 2011.



JUREMIR MACHADO DA SILVA
juremir@correiodopovo.com.br

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O ''analfabeto'' arrasou



O presidente Luiz Inácio chega ao fim do segundo mandato. Termina com 87% de aprovação popular. Pode dizer no seu melhor estilo que nunca antes na história de uma democracia um governante conseguiu tal consagração. FHC acabou seus oito anos com míseros 26% de apoio da população. Para mudar é preciso, às vezes, mudar-se. Luiz Inácio mudou. E ajudou a mudar um pouquinho o Brasil. Falta muito. Mas está um pouquinho melhor do que antes. Ao contrário do que alguns andam dizendo, o governo do PT foi muito bem em educação. Recuperou e ampliou as universidades federais. Arrasou ao adotar o ProUni e o Reúne. Deu show ao estimular a política de cotas. Fecha com chave de ouro com a decisão do Itamaraty de reservar vagas para afrodescendentes nos concursos para diplomata.



O orçamento do Ministério da Educação pulou de R$ 29 bilhões para R$ 67 bilhões no reinado de Luiz Inácio. O Bolsa-Família, política de Primeiro Mundo, existente, com outros nomes, nos países mais desenvolvidos e decentes do planeta, diminuiu desigualdades, distribuiu renda, deu de comer a muita gente, gerou empregos e acionou a economia em milhares de pequenas cidades. Só insensíveis, reacionários destemperados e sócios eternos do clube do ódio à esquerda continuam sem reconhecer os méritos das políticas sociais de Luiz Inácio. A extrema-esquerda tem outras razões. Se tivesse sido o que a direita previa, teria imitado Hugo Chávez e falhado. Seria a glória para seus detratores. Ele soube frustrá-los. Exagerou nas alianças indigestas. Fechou os olhos para o caixa dois do mensalão. Mas não deixou de jogar para escanteio potentados envolvidos como José Dirceu. O acusado de não dominar a língua mostrou-se o nosso melhor comunicador.



Na política internacional, Luiz Inácio cometeu erros e acertos. Aproximou-se do Irã, ditadura mal dissimulada que apedreja adúlteras e arranca olhos de quem arranca os olhos dos outros, provocando a fúria dos Estados Unidos, que são muito próximos da Arábia Saudita, ditadura sem dissimulação que apedreja adúlteras... O Brasil atravessou a pior crise financeira internacional depois de 1929 como se, de fato, não passasse de uma "marolinha". O ponto frágil de Luiz Inácio continua sendo o seu filho Lulinha, que mora num apartamento pago pelo Grupo Gol, recebe cada vez mais investimentos da poderosa Oi na sua deficitária empresinha Gamecorp e não decola. Por fim, Luiz Inácio bancou a eleição para o seu lugar de uma mulher, o seu melhor quadro administrativo, a "mineirucha" Dilma Rousseff. Os especialistas de plantão garantiam que seria impossível eleger Dilma. Depois, desesperados, inverteram o argumento: o presidente seria capaz de eleger até um poste. Neste último dia de 2010 e do seu mandato, Luiz Inácio deve conceder refúgio a Cesare Battisti. Se o fizer, demonstrará independência, coragem e capacidade de compreender a natureza dos crimes políticos. O "analfabeto" fez o doutor comer poeira. Poderia ter sido melhor do ponto de vista da esquerda, o que talvez fosse pior para o Brasil. Poderia ter sido pior do ponto de vista da direita, o que seria melhor para ela. Há males que fazem algum bem. Feliz 2011.



JUREMIR MACHADO DA SILVA
juremir@correiodopovo.com.br

quinta-feira

Salário e carreira de professores são prioridades - entrevista do ministro Fernando Haddad à Folha de S. Paulo de hoje, dia 23/12/2010


MINISTRO DA EDUCAÇÃO AFIRMA QUE A PASTA TERÁ UMA PARTICIPAÇÃO MAIS ATIVA NA QUESTÃO DOS DOCENTES NO GOVERNO DILMA ROUSSEFF



Por ANGELA PINHO

DE BRASÍLIA



O Ministério da Educação no governo Dilma Rousseff deverá ter uma participação mais ativa nas questões que envolvem o professor, diz o ministro Fernando Haddad.



Em entrevista à Folha, ele defendeu o MEC da responsabilidade sobre falhas no Enem e disse que o ideal é ter mais de uma prova por ano.


Folha - O que o novo governo terá de novo na educação?

Fernando Haddad - A novidade é o Plano Nacional de Educação [enviado ao Congresso na semana passada], com 20 metas definidas em 170 estratégias. Tem foco acentuado no professor.

Uma das metas é equalizar o salário com os outros profissionais de nível superior [hoje, há diferença de 60%]. Não há experiência internacional bem sucedida quando o professor ganha menos.



Que medidas concretas serão tomadas para isso acontecer?
Já tomamos uma medida ao aumentar o investimento em educação. É preciso também uma interlocução com Estados e municípios para que as carreiras sejam estruturadas nesse sentido. O PNE prevê uma mesa de negociação permanente sobre o piso salarial [de R$ 1.025].



Haverá mudanças no Enem?

Isso depende menos de uma decisão política e mais de uma técnica. Vamos ouvir a gráfica, os Correios e o consórcio que faz a prova para decidir. O ideal é ter mais de uma edição por ano.



As últimas duas edições do exame tiveram problemas. Que autocrítica o sr. faz?

Os problemas mais marcantes tiveram origem no setor privado, não no público.

Uma gráfica pecou [2009] por falta de segurança e a outra por excesso de segurança [2010], porque a conferência de todos os lotes de prova dependia de um manuseio que se tentou evitar ao máximo para que não se repetisse o que houve no ano passado.



Se os problemas foram só do setor privado, é possível deduzir que podem se repetir?

Esses problemas ocorrem em todos os lugares onde há exames desse porte.

Ou bem aproveitamos para aprender com as eventuais falhas sem abdicar de um processo transformador ou essa evolução não vai se dar por um temor que é justificável, mas superável.



O ensino médio é o que avança mais lentamente, em qualidade e quantidade de alunos.

Talvez não na escala desejada, o MEC vem fomentando a integração do ensino médiocom a educação profissional.


O discurso dos secretários de Educação está cada vez mais alinhado com isso. É importante diversificar o ensino médio, integrando-o à realidade profissional e a áreas como cultura e esporte.



Haverá mudança na política de educação superior?

Há espaço para inovação acadêmica, discutir currículos mais interessantes e para um ganho de eficiência: podemos atender mais alunos.



O sr. pretende introduzir alguma mudança no MEC?

Sobretudo em relação ao magistério, precisamos reforçar um núcleo interno. Seria uma estrutura voltada à carreira, à valorização do professor, da formação.

Gostaria que o MEC tivesse um protagonismo maior na mesa de negociação do piso. Estamos também prevendo a prova de concurso [concurso nacional para professor].



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A entrevista está disponível no site da Folha de S. Paulo para assinantes da Folha ou do UOL, pelo link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2312201027.htm