Além disso, segundo a educadora, a observação do universo lúdico infantil revela que, apesar de toda a influência mercadológica a que as crianças estão submetidas, como as diversas estratégias de marketing associadas à compra de brinquedos, os objetos industrializados, cheios de efeitos sonoros, visuais e de tecnologia, não são indispensáveis à diversão.
“O brincar é fundamental para criança, que brinca muito em todas as regiões, mas não o brinquedo, que é muito mais uma necessidade do adulto e da indústria. É uma produção pensada pelo adulto para a criança, que, na verdade, tem toda a competência e muita qualidade para desenvolver o brincar de diversas formas que não dependem do brinquedo”, disse, lembrando ainda que em muitas comunidades visitadas as crianças utilizam elementos regionais para produzir artesanalmente seus próprios objetos de diversão coletiva.
É o caso do menino Emerson, morador do bairro do Arraial, em Araçuaí, pequeno município do interior de Minas Gerais, a cerca de 650 quilômetros da capital Belo Horizonte. Dono de uma criatividade própria da infância e de muita disposição para dar asas à imaginação, ele cria brinquedos com madeira encontrada nas casas dos vizinhos. Segundo Renata Meirelles, “ele é do tipo que carrega o brincar consigo seja lá onde for”.
Experiência semelhante foi observada pelo casal em Acupe, distrito do município de Santo Amaro da Purificação, localizado no recôncavo baiano. Os meninos que vivem na comunidade de origem indígena e africana, conhecida por suas manifestações culturais criadas por negros escravizados, usam cacos de telha e gravetos para construir, no chão de terra, pistas de corrida para tampinhas de garrafas, que substituem os carrinhos. O vencedor do jogo, baseado em um conjunto de regras simples, é aquele que chega primeiro ao fim da pista batendo sua tampinha na telha.
Para a coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Maria Ângela Barbato Carneiro, a vivência de brincadeiras é fundamental para o desenvolvimento físico, motor, cognitivo, social e emocional das crianças.
Ela enfatizou que os pais devem estar atentos a essa necessidade da infância e precisam equilibrar o acesso a brinquedos eletrônicos, como videogames e joguinhos em tablets e celulares, à diversão cultural, ao ar livre e espontânea.
“Não se pode impedir o acesso à tecnologia, mas é preciso saber que seu uso em excesso aumenta a incidência de problemas como obesidade e isolamento em crianças. Ao contrário, as brincadeiras livres, com outras crianças, em espaços abertos, por exemplo, ajudam a formar adultos mais confiantes, criativos, bem resolvidos e menos individualistas”, disse.
Fonte: EBC Agência Brasil
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