Olá, o bolsonarismo faz barulho no Congresso para compensar seu fracasso nos tribunais. O centrão pega carona, mas tem seus próprios planos… .Último pedágio. Para quem imaginava um clima de Copa do Mundo, o início do julgamento dos golpistas teve mais previsibilidade e menos emoção que um Flamengo x Olaria. Como esperado, Alexandre de Moraes e Paulo Gonet foram veementes, indicando que o pedido da pena será alta e, do lado da defesa, cada réu tentou salvar a si próprio, com Braga Netto atacando Mauro Cid, Augusto Heleno se afastando de Bolsonaro, etc. No fundo, todos já sabem como a partida termina e torcida mesmo só das Forças Armadas para que o estrago seja menor nos quartéis. Os militares torcem silenciosamente para que pelo menos o ex-ministro da Defesa general Paulo Sérgio Nogueira e o general Augusto Helenosejam poupados, mesmo que para isso tenham que sacrificar Bolsonaro. Por hora, a caserna respira aliviada com o pedido de baixa de Mauro Cid. Animado mesmo foi o périplo de Tarcísio pela capital, único político de renome a aparecer por lá durante o julgamento. O governador paulista comandou pessoalmente a nova alavancagem do projeto de anistia, circulando pelo STF e pelo Congresso, e principalmente arrastando o centrão para a empreitada. O cálculo de Tarcísio faz sentido. Apesar do apoio do centrão à sua candidatura, ele ainda precisa da bênção de Bolsonaro e melhor recebê-la agora do que no ano que vem, quando um palanque com Jair atrás das grades pode ter efeito reverso. E não haveria maior prova de lealdade e merecimento do que o compromisso com a anistia e os movimentos concretos por ela, que ninguém fora do Congresso além de Silas Malafaia havia feito até agora. O centrão também sabe que para ter Tarcísio como seu candidato tem que acompanhá-lo neste pedágio. O movimento serviu ainda para que Hugo Motta, minúsculo desde a volta do recesso, tente recuperar algum respeito no centrão e entre os bolsonaristas. Até aqui, o plano de Tarcísio surtiu efeito ao baixar as resistências à sua candidatura entre o bolsonarismo, incluindo Flávio Bolsonaro. .Beijo de despedida. O problema para os Bolsonaros é que, assim que receber a unção de Jair, o carro do centrão e de Tarcísio vai acelerar em direção à campanha de 2026 deixando para trás o capitão e seus problemas. Os próprios advogados dos réus golpistas acham que a discussão da anistia agora só atrapalha e aumenta a temperatura do julgamento. Além disso, o bolsonarismo e o centrão parecem não ter aprendido a lição das últimas semanas, como as repercussões negativas da PEC da Blindagem e da tentativa de barrar a regulação das redes. Na prática, a anistia faz parte do pacotão que por um lado tenta blindar os parlamentares e por outro fustigar o STF. O próprio futuro da proposta é incerto, já que mesmo que haja maioria na Câmara, ninguém acredita que ela passe no Senado. Ao contrário, se for para se livrar da pauta, Davi Alcolumbre prefere aprovar um texto que diminua a pena dos aloprados que estão na Papuda, mas não beneficie os peixes graúdos julgados agora pelo STF. E mesmo assim, se o projeto avançar, além das notórias inconstitucionalidades, o STF cogita retalhar atacando onde mais dói nos parlamentares: acabar com as emendas impositivas. Por fim, assim como o destino da anistia, a estratégia de Tarcísio também tem vida curta. O abraço apertado no bolsonarismo agora é um pedágio, mas o desafio do centrão, na campanha, será justamente dissociar Tarcísio do ex-líder e vender uma imagem de moderado. O que a campanha da anistia não ajuda. Tarcísio também precisa contar que os bolsonaristas aceitem sua liderança, do contrário, o centrão teme que o eleitor bolsonarista-raiz se junte à Eduardo ou a outro outsider que se mantenha fiel ao discurso da extrema-direita. .Aloprados úteis. Frente ao julgamento dos golpistas, a tática do Planalto segue sendo manter-se afastado e defender a autonomia do Judiciário, o que aliás contrasta com a postura intervencionista de Trump e do Congresso brasileiro. Mas, mesmo que não dê em nada, a pauta da anistia joga areia nas relações de Lula com o centrão. A situação, que já estava complicada com a instalação da CPI do INSS, agora piora com o ultimato do União Brasil e do PP para que seus ministros deixem o governo. Mesmo que sejam dois ministérios de menor projeção - Turismo e Esportes - o cenário debilita a já frágil articulação com o Congresso. O tema da anistia contribui ainda para desviar as atenções dos projetos que já estavam na fila, estrangulando o calendário apertado. Prova disso é que ninguém mais fala da reforma do Imposto de Renda. Para compensar a demonstração de força dos caciques do PP e do União Brasil, Lula conta com a mão amiga de Davi Alcolumbre no Senado e sua influência entre os partidos do centrão para evitar uma debandada. Mas essa aproximação também tem seu preço: o centrão aproveita para passar sua própria boiadinha, que inclui a mudança na lei da Ficha Limpa aprovada no Senado e a priorização da reforma administrativa na Câmara, tema que conta com as simpatias do mercado, é complexo e corre o risco de se estender. Ainda pior, o governo está se vendo obrigado a defender a autonomia do Banco Central junto com o mercado financeiro e contra o projeto que prevê a demissão de diretores do Banco pelo Congresso, uma represália pelo bloqueio da compra do Banco Master pelo BRB, cujo lobby envolvia figuras proeminentes do centrão. Na lista de pendências do Planalto ainda há o orçamento de 2026, já encaminhado ao Congresso e cuja aprovação é estratégica para garantir os recursos em ano eleitoral. Mesmo com o PIB em expansão, há uma desaceleração a caminho que pode vir a prejudicar a arrecadação e restringir a margem de investimentos. Sem falar que um possível atraso na aprovação da matéria por problemas de articulação política implicaria em contingenciamento de despesas, como ocorreu no primeiro semestre deste ano. .Ponto Final: nossas recomendações. .Big Techs, os novos senhores da guerra. Livro mostra o envolvimento das gigantes de tecnologia nos grandes conflitos globais. No Outras Palavras. .A transformação do Brasil. N’A Terra é Redonda, Marcio Pochmann interpreta as mudanças estruturais do país e sua inserção global. .A mão invisível do PCC. A Piauí explica como funciona o esquema de lavagem de dinheiro bilionário que passa pela Faria Lima. .O debate sobre terrorismo. O que está por trás das pressões de Trump para classificar grupos criminosos brasileiros como terroristas? No Diplô Brasil. .O legado de destruição ambiental de Bolsonaro. O Observatório do Clima relembra os atos do ex-presidente contra o clima, as florestas e os povos indígenas. .O Tigrinho não é fofo à toa; como o design explica vício em apostas online? Na Lupa, especialistas analisam a dimensão psicológica do vício. .Luis Fernando Veríssimo, o artista que retratou o Brasil. Frei Betto escreve uma despedida ao cronista que nos deixou nesta semana. Na Revista Ópera. |
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